Introdução
A
crioterapia é uma das modalidades terapêuticas mais populares para o tratamento
de lesões de tecidos moles. Se não me falha a memória, o gelo foi um dos
primeiros recursos terapêuticos que aprendi na faculdade de fisioterapia.
Trata-se de uma técnica relativamente segura, não invasiva e de baixo custo
para o manejo da inflamação aguda em lesões musculoesqueléticas.
O
mecanismo de ação da crioterapia é multimodal, isto é: ela age por meio de
diferentes mecanismos simultâneos. Para compreender esses mecanismos, precisamos
relembrar como o nosso corpo se recupera de uma lesão tecidual.
Logo
após uma lesão tecidual, o corpo desencadeia uma resposta inflamatória local com
o objetivo de promover a cicatrização e a regeneração tecidual. Essa resposta
inflamatória caracteriza-se pela dilatação dos vasos sanguíneos locais,
aumentando a perfusão na área traumatizada e aumento da permeabilidade capilar,
com conseqüente extravasamento de fluido e células de defesa para a área da
lesão. Assim, a inflamação consiste no primeiro estágio da cicatrização, sendo
essencial para o reparo do tecido.
Nesse
contexto é importante destacar que o objetivo da crioterapia não é impedir a
resposta inflamatória, mas sim controlar esse processo a fim de evitar que ele
se torne exarcebado e contínuo. Os efeitos fisiológicos do gelo começam em
torno de 15 minutos depois de iniciada a aplicação, podendo durar até 30
minutos após esta ser encerrada.
EFEITOS FISIOLÓGICOS DA
CRIOTERAPIA
[1] Reduzir o fluxo sanguíneo
para os tecidos.
A aplicação de frio estimula
os vasos sanguíneos superficiais que respondem com uma rápida vasoconstricção e
diminuição da circulação local na pele. O plexo venoso cutâneo é formado por
vasos cujas paredes são inervadas por fibras nervosas simpáticas secretoras de
norepinefrina, com grande capacidade de contração e dilatação e que regulam o
fluxo sanguíneo dentro do plexo. A variação da temperatura desencadeia uma
série de reflexos levando a uma reduçlção do calibre da microcirculação,
O
Sistema Nervoso Autonômico Simpático (SNAS) regula o tônus dos vasos
sanguíneos. A diminuição da temperatura da pele e do músculo ativa um reflexo
vasoconstritor mediado pelo SNAS, resultando em uma rápida vasoconstricção.
Conseqüentemente a permeabilidade vascular e o fluxo sanguíneo são reduzidos
para os tecidos resfriados.
Essa
redução do fluxo sanguíneo local tem um efeito positivo em uma lesão em fase
aguda, pois reduz o edema e retarda a liberação de mediadores inflamatórios
(por exemplo, leucócitos), reduzindo assim a inflamação da área afetada.
[2] Reduz o edema inflamatório
O edema inflamatório é
resultado do extravasamento de fluido, proteínas e células para o interstício,
decorrente do aumento da permeabilidade dos vasos sanguíneos na área lesionada.
O aumento do edema prejudica o fluxo vascular na região, bloqueando a rede
linfática, o que promove mais obstrução da perfusão, piorando o processo e
resultando na expansão do tecido e aumento da pressão tissular. Assim a
oxigenação tissular é prejudicada, causando morte celular, dor, limitação do
movimento e atraso na cicatrização.
Ao
se reduzir a temperatura do tecido, a vasoconstricção associada à redução da
permeabilidade capilar e conseqüente redução do sangramento diminui o
extravasamento de líquido e células para o interstício, controlando a pressão
oncótica local e, conseqüentemente, a formação do edema. Ademais, a diminuição
do metabolismo celular reduz a morte celular reduz a morte celular e por conseqüência
a liberação de fragmentos decorrentes da destruição dessas células para o
tecido danificado, reduzindo a quantidade de proteínas no espaço extravascular
e a pressão oncótica, que é uma das mais importantes causas de edema. .
[3] Reduz o metabolismo
A redução do metabolismo
celular é considerada o efeito mais importante da crioterapia no tratamento
imediato de lesões agudas, visto que ao reduzir o metabolismo local, reduz-se
também a demanda de oxigênio. Esse estado de “hibernação celular” é essencial
para evitar o agravamento do dano tecidual, e possibilita às células próximas à
área traumatizada sobreviver por mais tempo em um ambiente pobre em oxigênio.
[4] Produz um efeito
anestésico local
A dor relacionada à inflamação deve-se ao estímulo das terminações nervosas por
mediadores químicos. Além disso o edema comprime as terminações sensitivas
aumentando a intensidade da dor.
A queda na temperatura diminui a velocidade de condução nervosa das fibras A-Delta
e C, induzindo um efeito anestésico local, diminuindo a sensibilidade das
terminações nervosas livres, aumentando os limiares de disparo dos nervos e
diminuindo a atividade sináptica. Esses efeitos neurais aumentam o limiar de
dor do paciente e podem diminuir a necessidade de intervenções farmacológicas,
como narcóticos ou anestésicos locais.
PRECAUÇÕES
A crioterapia, se usada de
maneira inadequada, pode colocar os pacientes em risco de lesões locais, como
ulcerações por frio. As complicações comumente relatadas da terapia fria
incluem intolerância / dor e queimaduras pelo frio. Casos de neuropraxia de
nervos superficiais foram relatados após a aplicação de gelo, mas essa lesão
nervosa é temporária em quase todos os casos. A crioterapia deve ser usada com
cautela em pacientes com hipertensão, deficiência mental ou diminuição da
sensibilidade térmica. A terapia de frio não deve ser usada em pacientes com
hipersensibilidade ao frio, doença de Raynaud, ou em áreas de comprometimento
vascular.
REFERÊNCIAS (basta clicar na referência para ser direcionado ao artigo):
- Crioterapia
- A influência da crioterapia na dor e edemainduzidos por sinovite experimental
- Effects of cryotherapy methods oncirculatory, metabolic, inflammatory and neural properties: a systematic review
- Prolonged Superficial Local CryotherapyAttenuates Microcirculatory Impairment, Regional Inflammation, and MuscleNecrosis after Closed Soft Tissue Injury in Rats
- A duração do efeito analgésico da crioterapiana dor perineal no pós-parto: ensaio clínico randomizado
Nenhum comentário:
Postar um comentário