Síndrome de Guillain Barré e Zica Vírus
O Ministério da Saúde já confirmou a relação
do zika vírus com a microcefalia, e investiga também uma possível relação com a
síndrome de Guillain-Barré. Mesmo com a constatação do aumento dos casos de
síndrome de Guillain Barré em locais com circulação do zika vírus, ainda assim casos
desta síndrome continuam sendo bastante raros.
Antes que os teóricos da conspiração comecem
a espalhar suas teorias usando este texto como base, quero chamar os leitores a
uma simples reflexão para entenderem o quão raro é esta doença: Na Micronésia,
a incidência histórica média de síndrome de Guillain-Barré era de 5 casos por ano
e, durante um surto de Zika vírus naquela região, foram diagnosticados 40 casos
de síndrome de Guillain-Barré, ou seja, um número 20 vezes maior do que o
normalmente observado (mesmo um aumento estatisticamente dramático na
incidência, o total absoluto dos casos continua sendo baixo quando considerando
a população total). Situação semelhante foi observada na Polinésia francesa entre
2013 e 2014, quando foram identificados 38 casos de síndrome de Guillain-Barré durante
o surto de Zika vírus.
Espero que entendam que não se trata de um
risco a sobrevivência da raça humana. Não pretendo fazer pouco caso desta
doença, apenas chamar a atenção contra eventuais textos apocalípticos que rolam
no facebook e no whatsapp.
A Síndrome de Guillain Barré
O médico francês
Jean Baptiste Octave Landry (1826-1865) descreveu em 1859, cinco casos de “paralisia
ascendente” (posteriormente denominada paralisia ascendente de Landry).
Acredita-se que estes foram os primeiros casos da Síndrome de Guillain Barré
descritos. Em 1916, os neurologistas Parisienses Georges Guillain, Jean
Alexander Barré e André Strohl descreveram, durante a Primeira Guerra Mundial, o
caso de dois soldados franceses que desenvolveram um quadro de paralisia aguda
com arreflexia, o qual evoluiu com recuperação espontânea.
Embora Landry
tenha sido reconhecidamente o primeiro médico a descrever esta patologia, o
grande mérito destes três médicos foi demonstrar a anormalidade característica
do aumento das proteínas com celularidade normal que ocorria no líquor dos pacientes
acometidos pela doença. Por conta disso, esta síndrome passou a ser mundialmente
conhecida como Síndrome de Guillain-Barré. Não sei dizer por que não incluíram Strohl
na denominação da doença. Meu palpite é que talvez ele não fosse um cara muito
popular ou, quem sabe, pegou dinheiro emprestado com o Barré e nunca pagou, ou
tenha roubado a namorada o Guillain.... sei lá....o fato é que a doença passou
a ser conhecida como Síndrome de Guillain-Barré apenas.
Mas voltando ao assunto: a Síndrome de
Guillain-Barré é classificada como uma polirradiculoneuropatia desmielinizante
inflamatória aguda de origem autoimune. O
sintoma mais evidente é a fraqueza muscular simétrica. Em geral esta fraqueza
manifesta-se inicialmente nos membros inferiores, progredindo rapidamente para
o tronco e membros superiores (Foi por causa desta peculiaridade que Landry a
batizou como paralisa ascendente).
Não é raro que um dos primeiros sintomas seja
uma fraqueza nas pernas, percebida inicialmente como dificuldade em subir
escadas (para pegar um ônibus, por exemplo), evoluindo para incapacidade de
marcha, fraqueza progressiva no tronco, podendo atingir os músculos respiratórios.
Além disso, podem ocorrer distúrbios sensitivos e autonômicos (tais como perda
do controle vasomotor, grandes variações da PA, hipotensão postural e arritmias
cardíacas). Este quadro pode evoluir em poucas horas ou mesmo em alguns dias ou
semanas, e seu grau de acometimento pode variar de uma simples fraqueza de
membros inferiores a um quadro de quadriplegia.
Cerca de 50 % dos pacientes relatam alterações
sensitivas tais como formigamento dos pés ou dedos; 25% iniciam o quadro com
uma combinação de sensações anormais e fraqueza. A dor também é um sintoma
comum, às vezes experimentada como dor profunda dor ou cãibras nas nádegas,
coxas ou entre os ombros.
Embora possua prognóstico favorável, sua taxa
de mortalidade encontra-se entre 5% e 10% dos pacientes que permanecem gravemente
incapacitados até 1 ano após os primeiros sintomas.
Importante destacar que embora relacionada a
infecções prévias, sua etiologia ainda não é compreendida completamente e
também não se trata de uma doença contagiosa.
Insuficiência Respiratória causada pela Síndrome de Guillain Barré
A principal preocupação com relação aos
sintomas é o acometimento dos músculos respiratórios, visto que em aproximadamente
um terço dos casos os músculos intercostais e o diafragma podem ser afetados,
resultando em falência respiratória e
necessidade de suporte ventilatório invasivo.
Em um trabalho de revisão publicado em 2010
na revista de neurociências, Ishibashi e colaboradores identificaram que os principais
fatores capazes de predizer a má evolução respiratória, foram a rápida evolução
dos sintomas, presença de disfunção autonômica, comprometimento bulbar e o grau
de comprometimento neurológico na admissão e durante a evolução (quanto maior o
comprometimento inicial, maior a evolução para ventilação mecânica).Observação: o comprometimento neurológico pode
ser graduado de acordo com a escala de Hughes et al. modificada pelo
Guillain-Barré Study Group25
Gente, esta postagem começou a ficar muito grande. Em breve escreverei
sobre a fisioterapia na síndrome de Guillain Barré.
REFERÊNCIAS: