Os smartphones são pequenos aparelhos viciantes que de uns anos pra cá se
tornaram um item de necessidade básica para muita gente. Tamanha dependência pode ser facilmente explicada pelo fato de poderem ser usados para ouvir música, abrir
e-mails, fotografar, caçar Pokemóns, e ainda falar pelo Whatsapp ( Ah! O
zap-zap! Como eu adoro o zap-zap!!!!!).
Recentemente alguns pesquisadores têm chamado a atenção
para uma condição chamada “Smartphone Neck” (também conhecida pelos termos
“text-type syndrome” e “tech-neck”). Traduzindo, ficaria algo como “pescoço de
smartphone”, a exemplo de outras síndromes famosas como “cotovelo de tenista”,
“cotovelo de golfista”, “joelho de saltador”, etc... Aparentemente, o
smartphone neck é uma condição semelhante a uma lesão de esforço repetitivo
associada a postura fletida assumida quando usamos esses aparelho por longos
períodos de tempo. Essa flexão no plano sagital aumenta a carga sobre as estruturas
do pescoço, afetando também a coluna dorsal e lombar devido as compensações
posturais.
Tenho certeza que você já viu a cena que irei descrever: Uma pessoa toda encolhida, com os dentes arreganhados, olhando fixamente para uma tela brilhante em sua mão. Costas encurvadas, ombros protraídos, a cervical inferior fletida enquanto a cervical superior permanece estendida. Olha aqui embaixo a sobrecarga que esse apocalipse biomecânico causa sobre o pescoço.
Você se identificou?
Você se sente como se o peso do mundo estivesse em suas costas?
Pois lhe digo que a solução é muito simples, basta seguir os passos a seguir:
Passo#1- Compre uma passagem para alguma ilha paradisíaca,
Passo#2- Caminhe calmamente até a beira da praia,
Passo#3- Arremesse seu telefone no mar, o mais longe que puder,
Passo#4- Abra uma cerveja, curta a praia e seja feliz.
Antes de continuar, quero deixar duas pequenas
observações:
OBS 1: Para tornar a experiência ainda mais prazerosa,
recomendo que antes do passo #3, faça uma última ligação para o seu chefe e
mande-o à merda.
OBS 2: Antes que alguém reclame da minha sugestão de poluir uma praia paradisíaca com um celular, gostaria de deixar
bem claro que isso foi uma piada; ou seja: um comentário jocoso, não necessariamente
real ou que deva ser seguido (o mesmo vale para a sugestão de ligar para o chefe ).
Mas voltando ao assunto:
Alguns pesquisadores afirmam que existe uma maior
prevalência de dores nas regiões cervicais, dorsais e ombros em usuários
frequentes de smartphones. Apesar de concordar que ao usar smartphones seu
corpo fica em uma postura horrorosa, preciso deixar uma pequena nota de
desconfiança sobre a declaração de causa e efeito. Não creio que os smartphones
sejam o grande vilão dessa estória.
Ao ler artigos publicados sobre o tema, identifiquei que
as evidências de dores crônicas em usuários de smartphones são em sua maioria
derivadas de estudos que investigaram pessoas que usavam simultaneamente smartphones,
notebooks e computadores (colocando todo mundo num mesmo saco). Não encontrei
em minha pesquisa nenhum artigo que tenha investigado única e exclusivamente as
queixas álgicas relacionadas ao uso de smartphones (imagino que seja muito
difícil estabelecer essa relação, até porque muitos usuários frequentes de
smartphones também usam frequentemente computadores, tablets e notebooks,
“borrando” assim a população amostral desses estudos). Assim, embora seja uma
dedução coerente, não é possível afirmar com base em estudos clínicos que os
smartphones sejam a causa de uma “epidemia de dor cervical” como notificado em
alguns sites.
OPINIÃO
O uso frequente de smartphones pode sim contribuir com o desencadeamento e
perpetuação de dores cervicais, porém acredito que o mais correto seria
relacionar essas dores ao uso excessivo de tecnologia de comunicação pela
internet.
Para reforçar esse
meu ponto de vista, lembro que existe uma tecnologia, muito mais antiga do que
os smartphones que coloca um stress virtualmente idêntico sobre a coluna cervical,
mas que nunca recebeu um nome pomposo e nem foi relacionada a epidemias de
cervicalgia. Trata-se da prática da leitura de livros, tudo bem
que as pessoas não costumam caminhar com um livro na mão (muito menos correr
por aí caçando Pokemóns com eles), mas conheço vários concurseiros que passam
horas com a cabeça baixa lendo livros em casa, no ônibus, no metrô e trem, na
mesmíssima postura da galera que conversa pelo whatsapp (já mencionei que adoro
o zap-zap?).
Concluindo, gostaria de propor uma reflexão mais ampla
sobre o tema. Vai que o termo “smartphone neck” vire moda, quem sabe? Quando
receberem pacientes com este diagnóstico, orientem, tratem as dores e corrijam
a postura, mas não se esqueçam de investigar o uso de outros equipamentos de
comunicação e lazer como tablets e notebooks, tanto em casa quanto no trabalho.
Hasta la vista amigos!
REFERÊNCIAS