As mãos humanas representam um dos mecanismos mais complexos
de nosso corpo. Com elas nós conseguimos manipular objetos, sentir texturas,
avaliar temperatura e também expressar ideias e sentimentos (essa última função
é de grande importância, principalmente se você for descendente de italianos).
Pelo fato de serem tão importantes e as usarmos bastante, as
mãos estão expostas a lesões traumáticas, lesões por esforço repetitivo e podem ainda ser afetadas por doenças degenerativas. Sendo assim, o conhecimento abrangente da anatomia
e biomecânica das estruturas da mão é de grande interesse para nós, fisioterapeutas.
É claro; inúmeros textos já foram
escritos sobre a estrutura e função da mão humana, e esta postagem tem apenas o
objetivo de fazer uma breve revisão sobre os ossos do carpo e tentar descomplicar alguns conceitos.
A ESTRUTURA FUNCIONAL DO PUNHO
O complexo articular do punho pode ser entendido como o elo
anatômico que conecta a mão ao antebraço. É formado pelas extremidades distais do
rádio e da ulna, juntamente com os oito ossos do carpo e as bases dos cinco metacarpos,
somando um total de 15 estruturas ósseas.
Aqui vale uma pequena observação: O rádio distal articula-se
com os ossos do carpo enquanto a ulna articula-se apenas com o rádio (!). A ulna não tem contato direto com nenhum dos ossos do carpo. Entretanto, existe uma estrutura que faz a ponte entre a ulna distal e os ossos do carpo. Essa estrutura é chamada fibrocartilagem triangular, e tem a função de amortecimento e
suporte de carga no lado ulnar do punho e, como o próprio nome diz, é formada
por cartilagem em sua porção central e ligamentos nas suas margens.
Tranquilo até aqui? Então preparem-se pois a partir de agora, a quantidade de informações que
serão apresentadas poderão desencadear um ataque de pânico em alguns leitores desavisados. Por isso, neste
momento, sugiro que você interrompa sua leitura por alguns segundos, apenas o suficiente para respirar fundo e mentalizar o mantra "Não entre em
pânico"....
Prometo que a coisa não é tão horrível quanto parece..... apenas siga meu conselho de não entrar em pânico.
OS OSSOS DO CARPO
O carpo compreende o conjunto de oito pequenos ossos interpostos
entre as extremidades distais do rádio e da ulna e as bases dos cinco metacarpos.
Esses oito ossos tem nomes engraçados e compõem o que convencionamos chamar de
punho, sendo classicamente descritos como dispostos em duas fileiras:
Fileira proximal (apresentados a partir do polegar):
Escafoide, Semilunar, Piramidal e Pisiforme
Fileira distal (apresentados a partir do polegar): Trapézio,
Trapezoide, Capitato e Hamato
Ainda lembro de como foi desesperador tentar
memorizar a posição e o nome desses benditos ossinhos. Felizmente existem algumas técnicas que podem
ajudar nesse processo. Eu selecionei três formas de memorizar os ossos do carpo.
Espero que ao menos uma sirva pra você.
Técnica #1 (disponível no facebook; na página dra. Fisio)
Técnica #2 Eu Sei Porque o Professor Também Tentou Comer
Hambúrguer
A primeira letra de cada palavra dessa frase se relaciona com a sequência dos ossos do carpo
Eu = Escafóide
Sei = Semilunar
Porque = Piramidal
Professor = Pisiforme
Também = Trapézio
Tentou = Trapezóide
Comer = Capitato
Hambúrguer = Hamato
Eu conheci essa técnica mnemônica em um vídeo sobre os ossos
do carpo do canal anatomia prática do Youtube. Esse macete é explicado com
riqueza de detalhes lá por volta dos 2minutos de vídeo.
Técnica #3 Desenhar . . . desenhar . . . desenhar . . .
Pois é, a terceira técnica consiste em desenhar até você ficar com a mão doendo e/ou o saco cheio.

Posso te garantir que depois da terceira vez em que conseguir desenhar corretamente sem olhar para o modelo (repito: sem olhar!!), você já estará com tudo muito bem memorizado.
COMPLEXO ARTICULAR DO PUNHO
A grosso modo, podemos entender que o
carpo, apesar de formado por oito ossos, comporta-se como se houvessem apenas
duas superfícies articulares:
[1] A articulação rádiocárpica, e
[2] a
articulação mediocárpica.
Articulação
radiocárpica:
A anatomia estrutural da primeira fileira de ossos do carpo tem o formato
côncavo, permitindo um encaixe congruente com o radio formando uma articulação do
tipo condilar ou condilóide com dois eixos de movimento: um transversal,
através do qual os movimentos de flexo-extensão acontecem; e outro
ântero-posterior, através do qual ocorrem movimentos de abdução-adução (desvio
radial, desvio ulnar).
Esta articulação está envolta por uma cápsula articular
frouxa, porém forte, reforçada por ligamentos. A superfície proximal da
articulação radiocárpica é formada pela extremidade do rádio + fibrocartilagem
triangular. A superfície articular distal é formada pelos ossos da fileira
proximal do carpo: escafoide, semilunar e piramidal. O osso piramidal
articula-se primariamente com a fibrocartilagem e o osso pisiforme não
participa dessa articulação.
Articulação
mediocárpica:
A articulação mediocárpica, está situada entre as duas fileiras de ossos do
carpo. A linha articular da mediocárpica tem a forma de um “S” itálico. As superfícies distais do escafoide, semilunar e piramidal combinadas
articulam-se com as superfícies proximais dos ossos da segunda fileira do
carpo: trapézio, trapezoide, capitato e
hamato.
A Fibrocartilagem Triangular
Movimentos do carpo
A fibrocartilagem triangular, estende-se do processo estiloide da ulna até a borda inferior da incisura ulnar do rádio. Essa estrutura é ao mesmo tempo uma superfície articular e um meio de união. Nos movimentos de prono-supinação, a fibrocartilagem movimenta-se em torno da ulna como um “limpador de para-brisas”.
Movimentos do carpo
Você acreditaria se eu lhe dissesse que existem movimentos
intracarpais durante a flexão/extensão, adução/abdução do punho? Isso mesmo! O
carpo não é um amontoado de ossos fixados uns aos outros. Entretanto, nesta
postagem irei me limitar a cinesiologia dos movimentos carpais descritos nos
livros Kapandji, Blandine e Kisner, os quais (acreditem em mim) são os mais
simples e didáticos que encontrei. Deixarei referências no final para quem
quiser se aprofundar mais no tema.
Desvios ulnar e radial
Ok Galera,
Sei que esta postagem é incompleta, mas acho que vai ajudar a quem estiver dando os primeiros passos nos estudos da articulação do punho. Sugestões e correções de eventuais equívocos são bem vindas.
REFERÊNCIAS (com links diretos para os artigos)
Flexão/extensão de
punho
A artrocinemática da flexão e extensão do punho é baseada no
movimento sincronizado das articulações radiocárpica e mediocárpica. Quando
realizamos os movimentos de flexão e extensão do punho, ocorrem, nas duas
fileiras do carpo, movimentos de deslizamento volar (ventral) e dorsal, além de
adução e abdução. Um detalhe
interessante desse mecanismo é que os movimentos de adução e abdução são
opostos nas duas fileiras e se anulam mutuamente.
Durante a flexão, a primeira fileira do carpo
(escafoide-semilunar-piramidal) desliza em direção ao dorso da mão e realiza
também uma ABDUÇÃO associada, enquanto que a segunda fileira
(trapézio-trapezóide-capitato-hamato) realiza uma ADUÇÃO, e como já mencionado,
essa adução da segunda fileira compensa e anula a abdução da primeira linha.
Durante a EXTENSÃO, a primeira fileira dos ossos do carpo
realiza um deslizamento em direção ventral e uma ADUÇÃO associada, enquanto a
segunda fileira realiza uma ABDUÇÃO compensatória.
Desvios ulnar e radial
Durante o desvio radial, a primeira linha executa uma
FLEXÃO, enquanto a segunda linha executa uma EXTENSÃO de compensação.
Durante o desvio ulnar, ocorre exatamente o oposto, ou seja:
a 1ª fila realiza uma EXTENSÃO, enquanto a 2ª fila realiza uma FLEXÃO
compensatória
Ok Galera,
Sei que esta postagem é incompleta, mas acho que vai ajudar a quem estiver dando os primeiros passos nos estudos da articulação do punho. Sugestões e correções de eventuais equívocos são bem vindas.
REFERÊNCIAS (com links diretos para os artigos)
- The Anatomy and Mechanics of theHuman Hand
- Applied anatomy of the wrist, thumband hand
- Understanding Wrist Mechanics: A Long andWinding Road
- Functional kinematics of the wrist
- KAPANDJI, A. I. Fisiologia articular.
- Anatomia para o Movimento - Volume 2, Blandine Calais-Germain
- Exercicios Terapêuticos - Fundamentos e Técnicas - Carolyn Kisner